sexta-feira, 25 de junho de 2010

No início deste Verão incerto


Hoje preciso falar-te. Contar-te a minha vida desde que te foste, as minhas pequenas histórias banais, os meus desencontros com o mundo. Estou junto da tua sepultura, sentada no início deste Verão incerto, as mãos trémulas e o coração nas trevas, o corpo e a alma devastados pela tua ausência. Quero dizer-te tantas coisas, tantas que se atropelam umas ás outras dentro da minha mente já quase louca, tantas que nem sei se vou conseguir expressá-las todas. Mas tenho a certeza disto: não aceito a tua vida interrompida, não aceito o vazio que persiste, não aceito o mundo sem tu existires nele, sorridente e límpido, como tu sempre foste nos dias felizes.
Desde que partiste, tudo ficou fora do sítio. A casa desarrumada, a roupa fora das gavetas, os livros caídos das estantes. Os corações fora do corpo, o amor sem encaixe. E eu sem ti.

O tempo parou nesse dia, e vivo agora numa dimensão diferente, num universo paralelo, numa espécie de sonho eterno, de onde nunca mais vou poder acordar.
Vivo empurrada pela rotina dos dias, pelas obrigações quotidianas, pelo tempo impiedoso que corre sempre, regular e inexorável, sem pausas.

Pergunto-me muitas vezes, como é possível que, mesmo depois da tua morte, o sol tenha continuado a nascer todos os dias, e as estações tenham mudado, e alguém tenha sido feliz. Não entendo. O certo seria que tudo tivesse ficado suspenso nesse momento, nesse terrível segundo em que te separaste da vida e de todos nós.
Não consigo viver sem ti. Estou, desde esse dia, á beira do abismo, fascinada pela vertigem da escuridão, ás cegas no centro do labirinto. Não encontro a saída. Estou, definitiva e irremediavelmente, perdida.

O tempo que passa não alivia a dor. Pelo contrário, torna-a cada vez maior, cada vez mais forte, generaliza-a ao corpo todo e torna-me cada vez mais vulnerável. O tempo é escasso, não chega para lamber as feridas, para me consolar o espírito. Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.

Preciso dizer-te que estou, mais uma vez, desencontrada do que quero e do que preciso. Como quando nos conhecemos, lembras-te? Isso foi há muito tempo, tu eras uma criança traquina e tinhas o coração nos olhos e a alma exposta, e sorrias para mim com a confiança e o Amor de um irmão.
Gostava que estivesses aqui e que me abraçasses como nesses tempos felizes e atribulados, em que tantas vezes chorámos os dois para logo de seguida explodirmos em gargalhadas sonoras. Tu conhecias profundamente o meu coração e a minha essência, e hoje queria que estivesses aqui, junto a mim, para me dares a mão e para me segredares: “Eu entendo”.

Estou devastada e as lágrimas não são suficientes. Estou desfeita e o tempo passa muito depressa, depressa demais. A vida esmaga-me e tu não regressas.

Sentada junto á tua sepultura, no início deste Verão incerto, quero dizer-te que o meu Amor por ti é eterno, assim como tu, as tuas mãos de criança e o teu sorriso brilhante, iluminando a minha noite.

Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.





Para o Cláudio, o meu Amor eterno (1983-2010)