sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Profundo Mar Azul"

Assisti ontem, no Teatro Taborda, a mais uma brilhante peça acolhida pela Companhia Teatro da Garagem, no seu ciclo "Try better, Fail better". "Profundo Mar Azul", de John Patrick Shanley, fala-nos de um encontro entre dois seres sem rumo, á beira do abismo, que carregam o peso das suas vidas vazias e sem sentido.


Danny é um homem destruído, sem objectivos, que apenas consegue comunicar através da violência. Roberta é uma mulher perdida, traumatizada com o passado e com as relacões familiares, que vive para a auto-punição. Quando se encontram uma noite num bar qualquer, estabelecem uma ligação estranha, violentamente intensa e poderosa e, durante o tempo que estão juntos, o Amor confunde-se com a Raiva e permitem-se sonhar com uma vida "normal", igual á de todas as outras pessoas no mundo. Permitem-se ser apenas pessoas comuns.

"Nunca planeei uma única coisa na minha vida. Nunca fiz o que quer que fosse. As coisas vão-me acontecendo. Eu, tu, o que fizeste. Não fizemos nada disso, aconteceu-nos".

Mais uma excelente surpresa, uma peça absolutamente poderosa e envolvente, com interpretações brilhantes de Gonçalo Ruivo e Carla Carreiro Mendes.

Mesmo Imperdível!
* Foto retirada da Internet

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"Cartas do Meu Moínho"

Reencontrei-me este fim-de-semana com imenso prazer, com um livro antigo chamado "Cartas do meu Moínho". Estava esquecido no fundo de uma caixa cheia de recordações antigas, entre cartas de amigos e o meu antigo diário de adolescente. Foi-me oferecido quando eu tinha 12 ou 13 anos, e fiquei imediatamente presa a ele e ás belas histórias que contava. Trata-se do relato de um poeta durante a sua estadia num velho Moínho abandonado, em França, na região da Provença. Lembro-me claramente, que foi quando acabei de lê-lo, que decidi que um dia, também haveria de escrever um livro assim, cheio de imagens belas e de palavras coloridas, que nos fazem sonhar e viajar para terras longíquas.
Aqui fica um excerto de um dos meus contos favoritos dessa obra:
"As Estrelas - Narrativa de um Pastor Provençal"

“No tempo em que eu guardava gado no Luberon, estava semanas inteiras sem ver vivalma, sozinho na pastagem com o meu cão Labri e as minhas ovelhas. Lá de longe em longe, o eremita do Monte Ure passava por ali á procura de ervas medicinais, outras vezes eu via a cara enfarruscada de algum carvoeiro de Piemonte (…). Por isso, de quinze em quinze dias, quando ouvia no caminho os guizos da mula da nossa quinta que ia levar-me as provisões da quinzena, e via aparecer a pouco e pouco, acima da encosta, a cabeça esperta do moço da quinta ou a touca berrante da velha tia Norade, sentia-me verdadeiramente feliz. Pedia-lhes que me contassem as novidades lá de baixo, os baptismos e os casamentos; mas o que mais me interessava era saber o que era feito da filha dos patrões, a menina Stéphanette, a rapariga mais linda dez léguas em redor. Sem mostrar demasiado interesse, informava-me se ela ia muito a festas, a serões e se continuava a ter muitos pretendentes; e a quem me perguntar o que isso me importava, a mim, pobre pastor da montanha, eu respondo que tinha 20 anos e que a Stéphanette era a coisa mais linda que eu tinha visto em toda a minha vida.

(…) Que linda que ela era! Os meus olhos não se cansavam de a olhar. È verdade que nunca a tinha visto de tão perto. Às vezes, no Inverno, quando os rebanhos desciam para a planície e eu voltava á quinta para cear, ela atravessava a casa a correr, sem mesmo falar aos criados, sempre bem arranjada e um pouco orgulhosa… E agora ei tinha-a ali na minha frente, só para mim. Não era de perder a cabeça?

(…) Ela olhou outra vez para o alto, com o queixo apoiado nas mãos, envolta na pele de carneiro como uma pastora de estrelas:
- Quantas estrelas! E como é bonito! Nunca tinha visto tantas… e sabes os nomes delas Pastor?
- Sei sim, Patroa… Olhe! Mesmo por cima de nós é a Estrela de Santiago (Via Láctea). Vai desde a França direitinha á Espanha. Foi S. Tiago da Galiza quem a traçou para indicar o caminho ao valente Carlos Magno quando ele fazia guerra ao Sarracenos. Mais além, tem o Carro das Almas (Ursa Maior) com os seus quatro eixos resplandescentes. As três estrelas de lá são as Três Mulas e aquela muito pequenina ao pé da terceira é o Cocheiro. Vê em toda a volta esta chuva de estrelas a caírem? São as Almas que Deus não quer no Céu (…) Mas a estrela mais bonita de todas, Patroa, é a nossa, a Estrela do Pastor, que nos ilumina ao alvorecer quando saímos com o rebanho, e á noite quando o recolhemos. Também lhe chamamos Magalona, a bela Magalona que persegue Pedro de Provença (Saturno) e se casa com ela de sete em sete anos.
- O quê Pastor, as estrelas também se casam?
- Pois casam, Patroa.
E quando tentava explicar-lhe o que eram esses casamentos, senti qualquer coisa fresca e suave pousar levemente no meu ombro. Era a cabeça dela, cheia de sono que se apoiava no meu ombro, num rogaçar de fitas, de rendas e de cabelos ondulados. Ficou assim, imóvel, até que os astros do seu empalidecerem, apagados pela luz do dia.
Eu via-a dormir, um pouco perturbado no fundo do meu ser, mas santamente protegido pela noite límpida que nunca me trouxe senão ideias, pensamentos puros. Em nossa volta, as estrelas continuavam a sua rota silenciosa, dóceis como um imenso rebanho; e por instantes, julguei que uma dessas estrelas, a mais frágil, a mais brilhante de todas, que se perdera no caminho, tinha vindo repousar no meu ombro para dormir.”

Alphonse Daudet, “Cartas do meu Moinho”, Editorial Verbo, 1978


* Imagem retirada da Internet

Vicky Cristina Barcelona

Este é um filme muito divertido, com o cenário absolutamente deslumbrante da bela cidade de Barcelona e que relata o cruzamento de 4 pessoas muito diferentes, mas cujas vidas acabam por se tocar, deixando marcas indeléveis.
Juan António Gonzalo (Javier Bardem) é um artista catalão, descontraido e sedutor, que vive para a experiência do prazer, mas é também uma alma um pouco perdida, á procura de si próprio e de um sentido para a vida, preso a uma relação intensa e doentia com a ex-mulher.
Christina (Scarlett Johanssen) é uma jovem actriz americana, desiludida com o amor e que busca incessantemente novas experiências e aventuras e um novo rumo para a sua existência.
Vicky (Rebbecca Hall) é uma jovem confiante e segura, de grande sentido prático, com casamento marcado com o suposto homem ideal e com a vida futura planeada ao mais infimo pormenor.
Maria Elena (Penélope Cruz) é uma mulher descontrolada, selvagem e um pouco deprimida, que vive uma relação de Amor /Ódio com o Ex-marido e que conta já no seu curriculo com várias tentativas de suicídio e uma de homicidio (do próprio marido).
Quando estas 4 personagens se encontram e as duas amigas se apaixonam pelo mesmo homem, o resultado só pode ser... absolutamente explosivo!

A não perder! Aqui fica uma pequena amostra:


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

E já passou um ano...

Parece que foi ontem, mas a verdade é que faz hoje precisamente um ano desde que "inaugurei" este pequeno espaço de pensamentos, reflexões, opiniões e alguns devaneios pessoais. É incrível que nem me dei conta do tempo passar.
A minha experiência na blogosfera já é anterior - em 2006 fiz a minha estreia com o "Espelhos e Máscaras", o primeiro e muito esperado filho, e logo de seguida, o "Letra&Música", para dar a conhecer e partilhar a minha paixão pela música - este "The World in my Eyes", surgiu de uma necessidade premente de dizer tudo aquilo que me vai na alma, sem floreados nem rodeios e sem medo de chamar as coisas pelos seus nomes. A objectividade e a frontalidade como princípios orientadores.
Tenho a dizer que este Blog me deu (e continua a dar) muitas alegrias. Cada Post resulta de uma experiência, angústia, raiva, alegria, medo ou preocupação e, no fim de cada um, sinto me sempre mais aliviada e mais feliz por poder escrevê-los. E partilhá-los.
Claro que nada disto faria sentido se não fossem os visitantes deste espaço, que sempre têm algo importante a dizer. O meu muito sincero agradecimento a todos os que por aqui passam e têm paciência e tempo para ler o que eu escrevo e sentir um pouco do que eu sinto.
Enquanto houver coisas para dizer (importantes ou não) cá continuarei, a partilhar a minha visão do mundo, das coisas e das pessoas, pelo menos, até escrever um livro (sim, que eu ainda hei-de ter pelo menos um livro publicado, insisto teimosamente nesta ideia).
A todos, até ao próximo Post!
P.S. - A ti, Marsh, um agradecimento especial, pela tua companhia incansável neste espaço (e noutros), pelos teus comments e, obviamente, pela tua inspiração... A tua entrada neste Blog será sempre VIP! Obrigada!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O Estranho Caso de Benjamin Button

A minha Avó costumava dizer que, para a vida ser perfeita, deviamos todos nascer velhos e ir rejuvenescendo á medida que o tempo passa e acabarmos como bébés de colo. Dizia que assim era certamente muito mais justo. Foi com esta lembrança muito viva na minha memória que não pude resistir ao apelo de ir ver "O Estranho Caso de Benjamin Button".
Uma cama de hospital, um furacão que se aproxima, um soldado morto na guerra, um relojoeiro de nome francês, um diário, o relógio da estação nova cujos ponteiros andam para trás. Um homem que vive com o tempo ao contrário, com a vida virada do avesso, que caminha no sentido contrário de todas as outras pessoas. Assim se faz esta história, aparentemente retalhada, entrecortada, sem nexo. No entanto, tudo tem a ver com tudo, nada é coincidência, todos os minutos estão ligados de forma surpreendentemente lógica.
Nem vale a pena dizer que adorei o filme. Retrata de forma absolutamente brilhante como é dificil aceitar a diferença dos outros e, em especial, como lidar com a nossa própria diferença. Um olhar muito inteligente sobre a velhice e a juventude, sobre as escolhas que fazemos e as oportunidades que desperdiçamos, um apelo a viver cada dia como se fosse último, "porque amanhã não se sabe o que virá". Uma bela visão sobre o mundo e os milagres da vida, sobre o amor e a amizade, sobre a angústia e a esperança, sobre a importância do tempo e o que escolhemos fazer com ele.
Interpretações geniais de Brad Pitt e Cate Blanchett, num fime para rir e para chorar, para sentir e pensar.
Imperdível!


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"A Troca"

"A Troca" é um filme brilhante, realizado pelo aclamado Clint Eastwood (que muito sinceramente aprecio muito mais como realizador do que como actor), que nos fala sobre a sociedade corrupta na América dos anos 20 e do drama de uma mãe solteira cujo filho desaparece misteriosamente.
Passados alguns meses de buscas incessantes e infrutíferas, a polícia tenta “abafar” o caso e dissimular a sua incompetência , com a entrega de uma criança que não é na verdade o filho desaparecido. À medida que a trama avança, o espectador segue numa viagem perturbadora pelos meandros da corrupção e do lado mais negro do ser humano, descobrindo a cada passo algo cada vez mais surpreendente.

Uma história verídica, arrepiante e emocional, com uma bela interpretação de Angelina Jolie, como já não se via há algum tempo. Na minha opinião, um possivel candidato ao Óscar.

A não perder!
* Foto retirada da Internet

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ano Novo, Vida Nova

Pois é... mais um ano que passou tão depressa que nem me dei conta, mais um novo ano que agora começa.

Depois do habitual balanço do final do ano, tendo revisitado tudo o que de bom e mau aconteceu em 2008, decidi que 2009 (apesar da crise que dizem que vai continuar, senão mesmo agravar-se) vai ser o MEU ano, o ano do Optimismo e da Confiança. Não quero mais inseguranças, frustrações, angústias, melancolias.

Este ano, só quero Acreditar. Viver cada dia como se fosse o último, fazer do presente o único tempo viável.

Comecei por fazer uma lista de resoluções para o novo ano e tenciono cumprir cada uma, sempre com a mesma convicção e segurança.

Quero erradicar o MEDO. Seguir mais vezes a intuição e os impulsos. Não deixar nada importante por dizer. Sorrir cada dia mais, mesmo quando as manhãs são cinzentas e chove lá fora.

Dar a mão a alguém que precisa de ajuda, mesmo que não a peça.

Não adiar os sentimentos. Nunca mais.

Os meus verbos de acção para 2009:

- Sorrir
- Lutar
- Persistir
- Acreditar
- Amar

O tempo é hoje, a cada dia. Sempre.


FELIZ ANO NOVO!

As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos

Nada melhor para acabar o ano do que rir ás gargalhadas... foi o que me aconteceu quando fui ver a peça "As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos", na Companhia Teatral do Chiado.
Trata-se de uma encenação brilhante de Juvenal Garcês, em cena desde 1996, e que faz uma viagem absolutamente alucinante ás obras de Shakespeare, desde "Romeu e Julieta", "Hamlet" e "Sonho de uma Noite de Verão", entre tantas outras. As interpretações estão a cargo de 3 actores simplesmente geniais: João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim.


Acho que nunca me tinha rido tanto numa peça de teatro. São cerca de duas horas e meia de gargalhadas incessantes, até ir ás lágrimas. Do melhor que já vi em teatro. Absolutamente imperdível.


"Este espectáculo é uma condensação de alta velocidade, género montanha-russa, das obras do grande dramaturgo inglês, William Shakespeare. Uma comédia / farsa hilariante, com João Carracedo, Manuel Mendes e Simão Rubim, que revisita as trinta e sete obras de Shakespeare: as tragédias, as comédias, as peças históricas e até os sonetos!Este enorme êxito teatral português, conforme toda a crítica o atesta, está em cena há mais de 12 anos e foi visto por 192.807 espectadores. O espectáculo fez 150 digressões e 1.265 representações até à data."




*Imagem retirada da Internet