sexta-feira, 31 de julho de 2009

A Caravana

"Atrás de si, o deserto. Traz consigo o ânimo de quem já viu, de quem já acreditou e não precisou de mais nada senão dos passos, um de cada vez, unidos, seguidos, pelo caminho que por dentro já traçou".

HIBA

A minha experiência no Teatro Meridional, com a peça "A Caravana", foi simplesmente inesquecível. A começar pelo próprio espaço. É um local mágico, um espaço recentemente remodelado, no coração da Lisboa antiga, ali mesmo na Rua do Açucar, junto ao Palácio da Mitra. Lá dentro, sentimo-nos em casa. Pessoas juntam-se e conversam, trocam impressões, riem. Cheira a café acabado de fazer. Uma espécie de preparação para a experiência do teatro.


A peça é genial. O autor e encenador é Nuno Pino Custódio e a história fala-nos da Rota da Seda, levando-nos numa viagem desde a China até Veneza, passando pela India e pela Assíria.

Cinco actores e um palco nu, que se vai enchendo de personagens e histórias, e onde vão sendo criados os cenários, apenas com panos e alguns paus, num exercício de sensibilidade e originalidade impressionantes.
Simplesmente perfeito!



"A Caravana é um espectáculo sobre a (in) comunicação, a singularidade do indivíduo e a sua identidade colectiva. relatos de histórias contadas numa representação total onde o corpo do actor assume todos os recursos. De Pequim a Veneza, a maior de todas as rotas é aquela que se faz entre cada ser, preservando a sua essência, fazendo-o existir quando cada um se quis realmente plural."

Texto e Encenação: Nuno Pino Custódio
Interpretação: Carlos Pereira, Catarina Guerreiro, Nuno Nunes, Rui M. Silva e Yolanda Santos.

http://www.teatromeridional.net/
* Fotos e informações retiradas da Internet

terça-feira, 14 de julho de 2009

E o Porto aqui tão perto...

Depois da emoção do Optimus Alive, com um absolutamente extraordinário, excitante, estonteante, brutal - e outros tantos adjectivos que certamente não caberiam neste post - concerto dos grandes Metallica, estava já a sonhar com o SuperBock Super Rock e com o concerto de Depeche Mode... eis senão quando, na véspera, me dizem que o concerto foi cancelado...segundo as notícias que correram, Dave Gahan ter-se-à lesionado numa perna, o que o impossibilitou de vir a Portugal.

Bom... foi um enorme balde de água fria. Meses a preparar este acontecimento, bilhete do concerto e de comboio comprados com imensa antecedência, hotel reservado para o fim-de-semana...enfim, todos os pormenores tratados e antecipados, e depois... não há concerto!

É que se há uma banda que eu gosto mesmo, são os Depeche Mode. Acompanho-os desde os primeiros tempos, conheço as suas obras de trás para a frente e o último concerto que vi foi simplesmente fenomenal! Por isso, fiquei mesmo muito decepcionada.

De qualquer forma, decidimos ir ao Porto na mesma (eu e 3 amigas, todas fãs de D.M.) e ainda bem que o fizemos. Uma espécie de fim-de-semana "just girls".

O Porto continua lindíssimo. Já tinha saudades da cidade, especialmente de passear na Ribeira, um dos meus lugares preferidos. Chegámos com o tempo cinzento, mas foi-se compondo ao longo do dia e o sol brilhou em grande o resto do fim-de-semana! Excelente!

O mais engraçado de tudo isto, é que, por portas e travessas (e graças a alguns amigos bem relacionados) conseguimos arranjar convites para o festival (o que nos permitirá reaver o dinheiro dos bilhetes). O Estádio do Bessa estava, como já se esperava um pouco despido de público, apesar do ambiente estar bastante animado.

Os The Gift e os Xutos&Pontapés foram recrutados, num carácter de emêrgência, para substituir os cabeças de cartaz, numa tarefa bastante ingrata de agarrar um público que se sentia defraudado á partida.

Mas correu mesmo muito bem. Os The Gift deram um belo espectaculo. Foi a 1ª vez que os vi ao vivo e fiquei agradavelmente surpreendida. Uma excelente performance de Sónia Tavares, que soube cativar o público desde o primeiro minuto, com muita garra e energia e oferecendo aos presentes os grandes êxitos da banda como "Music", "OK do you want something simple", "Fácil de entender", entre outros.

Realmente um concerto excelente, de uma banda que, na minha opinião, se afirma como uma das mais criativas e coerentes da música portuguesa e de uma vocalista brilhante, que se destaca num panorama onde as mulheres têm uma expressão ainda bastante débil. Certamente uma experiência a repetir.

Quanto ao Xutos não há muito a dizer...apesar de não ser grande apreciadora da banda, é impossível não lhes reconhecer o mérito e a qualidade e é impossível não cantar ao som de temas emblemáticos como "Contentores", "Circo de Feras, "Homem do Leme", "Chuva Dissolvente", e tantos, tantos outros, que o público cantou sempre em uníssono com a banda. Performance enérgica e irreprensível de um Zé Pedro que melhora há medida que os anos passam.
Fantástico!

Parabéns Teatro da Garagem!

Foi no passado dia 3 de Julho que a Companhia Teatro da Garagem comemorou o seu 20º aniversário, como não podia deixar de ser, de forma inimitável e junto ao seu público. Eu tive a sorte de estar presente neste acontecimento único.

A festa aconteceu no Teatro S.Luiz, em Lisboa, com a apresentação da "Odisseia Cabisbaixa", composta por duas peças: "António e Maria" e "Bela e o Menino Jesus". Pelo meio, fomos todos convidados a jantar e a celebrar os 20 anos da companhia.

"António e Maria resume o amor impossível. Na primeira parte do espectáculo assistimos a uma sucessão de quadros delirantes que invocam a Carne numa celebração trágica. Na segunda parte a Lua derrama a sua luz sobre a Terra distante, espécie de elegia de tudo o que passa sem ficar. Um cavalo atravessa a cena convidando-nos a continuar a Odisseia Cabisbaixa, após um jantar volante no Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal.
Bela e o Menino Jesus constitui a segunda parte da Odisseia Cabisbaixa. A acção decorre agora em Marte e termina talvez na cintura de asteróides, que forma o Anel de Saturno, carrossel de detritos, monstruosidade bela e geradora de outras possibilidade, resultante da explosão de um planeta.
Em Marte e no Anel de Saturno, o espectador pode muito bem viajar para o espaço da utopia ou rever um certo Portugal de Miguel Torga, Manuel da Fonseca e Alexandre O`Neill, um Portugal de uma pobreza, que ultrapassava o material, e de uma arte que falava de um espaço fundador da própria identidade portuguesa, denunciando assim essa pobreza. No caso desta Odisseiazinha, o problema não é tanto o da erradicação da pobreza, mas a sua utilização como metáfora que denuncia um outro, muito mais actual, o de um deficit de realidade. Cada vez menos se percebe o que é real, a presença dilui-se diariamente. O império do virtual é também o reino da ilusão, no qual a própria certeza de existirmos é uma incógnita que necessita de uma dor, ou de um belisco, para se certificar de não pairar na região sonâmbula das sombras.
Em Marte, há muito frio, neve e enormes monólitos de granito, memórias caladas da Terra, que os homens carregam como fardos. Os agricultores cultivam prodigamente batatas, sonhos de uma existência em que ainda eram heróis capazes de dormir à noite, sem o temor de acordar num mundo diferente na manhã seguinte.
Odisseia Cabisbaixa é uma metáfora do entendimento que fazemos de teatro. Trata-se de entender o teatro como acção cívica para a transformação do mundo e, nesse sentido, o teatro reconfigura a Terra (a ficção científica é, de certo modo, imaginar o futuro com os olhos no presente); quanto mais as personagens se afastam da Terra mais dela se aproximam. A companhia é a célula onde se ensaiam novos mundos numa escala laboratorial: singular e efémera, sem outro resultado que a memória que dela fica.
Quanto à possibilidade de mudança, é acreditar no trabalho e na sorte, que é como quem diz no milagre do Menino Jesus".

Duas peças geniais, um puro festim de criatividade teatral, doses industriais de loucura e surrealismo, onde é possivel rir e chorar com a mesma intensidade, amar e odiar ao mesmo tempo, dando a oportunidade ao público de se refastelar na cadeira e apenas apreciar a arte!

Mais uma iniciativa brilhante do Teatro da Garagem, que se assume como uma das mais inéditas e excitantes companhias de teatro deste pais! Eu sou fã!

* Fotos e informação retirada da Internet

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A Outra Margem

"A outra margem" é uma história que fala da diferença. É uma história que fala da (in) tolerância e das várias tonalidades da vida, do amor e da felicidade, dede o negro da morte ao verde da esperança.
Um homossexual, que trabalha como travesti num bar, perde o sentido da vida com a morte do homem que ama. Entra numa depressão profunda e tenta o suicídio. É nesse momento que começa esta viagem, quando se reencontra com a irmã, que já não via há muitos anos e conhece o sobrinho, um jovem de 16 anos com Sídrome de Down. A amizade sincera que se cria entre os dois transforma as suas vidas por completo.
Este é o encontro da mudança, a possibilidade de reconciliação com um passado doloroso e a oportunidade única de olhar para o futuro com esperança.
"A outra margem" é um filme português de 2007, com vários prémios internacionais conquistados, nomeadamente o Prémio de Melhor Actor no Festival de Filmes do Mundo de Montreal, atribuido ex-equo a Filipe Duarte e a Tomás Almeida.
É um filme comovente e tocante, que eu há muito queria ver, e que me surpreendeu em todos os aspectos.
A simplicidade com que a história é contada é simplesmente arrebatadora e a forma como aborda temas socialmente sensíveis como a homossexualidade e a deficiência é muito inteligente e extremamente emotiva.
Um filme brilhante, que na minha opinião, consagra Filipe Duarte como um dos melhores e mais versáteis actores de cinema da sua geração, com uma interpretação genial... tão boa que chega a ser arrepiante (a verdade é que depois dos primeiros 10 minutos de filme eu já estava tão tocada por ele que chorei).
Um filme feito de pormenores de beleza incontornável, para mim, uma obra-prima do novo cinema português.
Um filme de Luis Filipe Rocha. A não perder!