terça-feira, 14 de julho de 2009

Parabéns Teatro da Garagem!

Foi no passado dia 3 de Julho que a Companhia Teatro da Garagem comemorou o seu 20º aniversário, como não podia deixar de ser, de forma inimitável e junto ao seu público. Eu tive a sorte de estar presente neste acontecimento único.

A festa aconteceu no Teatro S.Luiz, em Lisboa, com a apresentação da "Odisseia Cabisbaixa", composta por duas peças: "António e Maria" e "Bela e o Menino Jesus". Pelo meio, fomos todos convidados a jantar e a celebrar os 20 anos da companhia.

"António e Maria resume o amor impossível. Na primeira parte do espectáculo assistimos a uma sucessão de quadros delirantes que invocam a Carne numa celebração trágica. Na segunda parte a Lua derrama a sua luz sobre a Terra distante, espécie de elegia de tudo o que passa sem ficar. Um cavalo atravessa a cena convidando-nos a continuar a Odisseia Cabisbaixa, após um jantar volante no Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal.
Bela e o Menino Jesus constitui a segunda parte da Odisseia Cabisbaixa. A acção decorre agora em Marte e termina talvez na cintura de asteróides, que forma o Anel de Saturno, carrossel de detritos, monstruosidade bela e geradora de outras possibilidade, resultante da explosão de um planeta.
Em Marte e no Anel de Saturno, o espectador pode muito bem viajar para o espaço da utopia ou rever um certo Portugal de Miguel Torga, Manuel da Fonseca e Alexandre O`Neill, um Portugal de uma pobreza, que ultrapassava o material, e de uma arte que falava de um espaço fundador da própria identidade portuguesa, denunciando assim essa pobreza. No caso desta Odisseiazinha, o problema não é tanto o da erradicação da pobreza, mas a sua utilização como metáfora que denuncia um outro, muito mais actual, o de um deficit de realidade. Cada vez menos se percebe o que é real, a presença dilui-se diariamente. O império do virtual é também o reino da ilusão, no qual a própria certeza de existirmos é uma incógnita que necessita de uma dor, ou de um belisco, para se certificar de não pairar na região sonâmbula das sombras.
Em Marte, há muito frio, neve e enormes monólitos de granito, memórias caladas da Terra, que os homens carregam como fardos. Os agricultores cultivam prodigamente batatas, sonhos de uma existência em que ainda eram heróis capazes de dormir à noite, sem o temor de acordar num mundo diferente na manhã seguinte.
Odisseia Cabisbaixa é uma metáfora do entendimento que fazemos de teatro. Trata-se de entender o teatro como acção cívica para a transformação do mundo e, nesse sentido, o teatro reconfigura a Terra (a ficção científica é, de certo modo, imaginar o futuro com os olhos no presente); quanto mais as personagens se afastam da Terra mais dela se aproximam. A companhia é a célula onde se ensaiam novos mundos numa escala laboratorial: singular e efémera, sem outro resultado que a memória que dela fica.
Quanto à possibilidade de mudança, é acreditar no trabalho e na sorte, que é como quem diz no milagre do Menino Jesus".

Duas peças geniais, um puro festim de criatividade teatral, doses industriais de loucura e surrealismo, onde é possivel rir e chorar com a mesma intensidade, amar e odiar ao mesmo tempo, dando a oportunidade ao público de se refastelar na cadeira e apenas apreciar a arte!

Mais uma iniciativa brilhante do Teatro da Garagem, que se assume como uma das mais inéditas e excitantes companhias de teatro deste pais! Eu sou fã!

* Fotos e informação retirada da Internet

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