quarta-feira, 9 de março de 2011

Camaradas, a Luta continua, pá!!!!

Abismo-me com a polémica gerada pelo Festival RTP da Canção deste ano. Estamos a falar de um programa, que nos últimos 15 anos foi completamente maltratado, desvalorizado e desacreditado pelo público e ao qual ninguém dava importância. De repente, uma massa de portugueses indignados, revolta-se contra os artistas escolhidos para representar Portugal, receosos com a nossa dignidade europeia (como se ela já não estivesse na lama há muito tempo). Não percebo.

Estamos a falar de um programa, que viveu os seus tempos de glória entre os anos 60 e 80, com interpretes tão marcantes como António Calvário, Simone de Oliveira, Fernando Tordo, José Cid ou Adelaide Ferreira e temas imortais como “A desfolhada”, “A Tourada”, “Um grande, grande amor” ou “Bem Bom”. Nesta época, o Festival da Canção era rei ao nível da programação da RTP, o país parava para acompanhar tudo o que se passava e havia um sério e real empenho em criar músicas de qualidade, que fossem o reflexo do nosso país. Talvez por isso, todos os grandes compositores e músicos quisessem mesmo participar no certame. Isso significava prestígio.
Nessas décadas, Portugal trouxe para casa boas classificações, nomeadamente alguns 7º lugares (Carlos Mendes e José Cid), marca que só viria a ser superada em 1996, pela Lúcia Moniz com “O meu coração não tem cor”, que alcançou um inédito 6º lugar.

A partir daí foi sempre a piorar. O programa caiu em descrédito, o público desinteressou-se e, pelos vistos, também os bons compositores decidiram não gastar as suas energias numa competição que já não cativava ninguém. Os resultados na Eurovisão são há muitos anos desastrosos, mesmo quando não merecemos – é o caso da música “Senhora do Mar” de 2008, que na minha opinião foi uma das melhores de sempre e que não conseguiu mais do que um 18ª lugar - e, a bem da verdade, já ninguém tem ilusões que Portugal alguma vez irá conseguir estar entre os primeiros dez classificados. Sair vencedor… só por milagre.

É certo que os Homens da luta não são consensuais. São agitadores. Criam polémica. É certo que a música não é brilhante e que os interpretes não são grandes cantores. Mas o que está aqui em causa é o significado desta escolha. Foi uma escolha em massa do público, clara e inequívoca. Portugal quis que estes fossem os seus representantes na Eurovisão, porque existe uma vontade de dizer alguma coisa, de marcar uma diferença, de sair do registo “certinho” de sempre (balada xaroposa ou fado canção). E é óbvio que há aqui uma mensagem política, uma vontade popular de exprimir descontentamento com um momento tão difícil de crise económica e social. Não há melhor forma de o fazer senão através do humor e não há melhor palco do que o da Eurovisão. E não percebo porque é que de repente, para tantas pessoas, isso é uma vergonha nacional, uma espécie de sacrilégio musical.

Também não percebo, porque é que se convencionou que na Eurovisão, não se pode arriscar fazer coisas diferentes e só se dá crédito a músicas consideradas muito sérias, com intérpretes clássicos. Relembro que em 2006, muitas pessoas ficaram chocadas com o aspecto dos Lordi e com seu Heavy Metal – actuação tão fora dos registos “normais” – e no fim, foram os vencedores, contra todas as expectativas.

A verdade é esta: pela primeira vez em muitos anos, a polémica criada voltou a dar destaque ao Festival RTP da Canção e á importância de uma representação fora de portas. E é também certo, que os Homens da Luta não vão passar despercebidos na Eurovisão. Não espero que tragam uma classificação fantástica (como já é habitual nos últimos anos) mas pelo menos a possibilidade de ser uma representação muito mais divertida que o habitual é enorme.
É comédia. Mas a comédia é uma coisa muito séria.

CAMARADAS, A LUTA CONTINUA, PÁ!!!!



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